Olá, Clubenautas queridos.
Hoje, temos uma resenha que além de contar uma história de amor muito intensa, proibida e cheia de desencontros, convida o leitor, de maneira fantástica, a conhecer ou relembrar acontecimentos que fizeram parte de um período importante de nosso país. Estou falando de “A Fragrância da Flor do Café”, da autora e jornalista alemã Ana Veloso, que narra, com maestria, o conturbado romance entre Vitória da Silva e Léon Castro. Mas, não é só isso. É uma obra na qual a autora se esmerou nas pesquisas para fornecer ao leitor informações sobre uma importante época nacional: a queda da perversa escravatura, o declínio das fazendas que viviam da plantação de café e, consequentemente, a falência dos “barões do café”.
Vamos conhecer esse fantástico romance?
A Fragrância da Flor do Café
Ano: 2014
1ª Edição
Páginas: 536
Idioma: Português
Editora: Jangada
Sinopse
Brasil, ano de 1884. No Vale do Paraíba, os latifundiários e suas famílias levam uma vida luxuosa e despojada de preocupações graças ao trabalho escravo nas plantações de café. Vitória, ou Vita, como é conhecida por todos, é filha de um dos mais ricos "barões do café". Sua vida muda completamente ao conhecer León Castro, jornalista e abolicionista que luta com fervor contra a escravidão e, portanto contra os interesses da família de Vita. Apesar das divergências, eles se apaixonam. Em meio à transformação do luxuriante Vale do Paraíba e o ar pitoresco da cidade do Rio de Janeiro, A Fragrância da Flor do Café conta a saga de uma família de fazendeiros e a história de um grande amor marcado por desencontros.
Um pouco sobre a autora
Ana Veloso nasceu em Koblenz, na Alemanha. Formou-se em Filologia Romântica, e morou muitos anos no Rio de Janeiro. No decorrer das inúmeras pesquisas que realizou para documentar este romance, passou algum tempo numa histórica fazenda de café no Vale do Paraíba. Depois de ter publicado dois ensaios, escreveu A Fragrância da Flor do Café, que já foi traduzido para vários idiomas e lhe rendeu uma indicação para o prêmio LiBeraturpreis. Atualmente, Ana mora em Hamburgo e trabalha como jornalista e escritora.
Vitória da Silva, no início da história, é uma jovem de 17 anos, filha de Alma da Silva (uma jovem senhora muito recatada e que levava muito a sério o amor cristão ao próximo) e de Eduardo da Silva, proprietário de uma das maiores fazendas de café do Vale do Paraíba (Fazenda Boavista), com mais de 300 escravos. Eduardo da Silva, um imigrante português, ganhou de Dom Pedro II o título de “Barão” por ter salvo a vida de um membro da Família Imperial acidentado ao montar um cavalo, tornando-se, então, senhor da Boavista e ganhando o título de “Barão de Itapuca”.
Vitória ou Vita, herdeira de uma grande fortuna, é uma jovem voluntariosa que se extasia com a beleza e com o aroma das flores das plantações de café. É dotada de personalidade forte e marcante. Seu único irmão, Pedro, vive no Rio de Janeiro, onde foi estudar. Por esse motivo, é ela quem ajuda o pai na administração e com os afazeres da fazenda.
É teimosa, determinada, extremamente inteligente e sagaz e não se submete com facilidade às determinações impostas pelo pai, pela religião e pela sociedade, mas, também, tem gostos e sonhos comuns às moças de sua idade, como frequentar os aguardados e suntuosos bailes e encontrar seu verdadeiro amor. A vida de Vitória se transforma totalmente quando, em uma das visitas que seu irmão faz à fazenda, leva seus três melhores amigos: Aaron Nogueira, João Henrique de Barros e o jornalista abolicionista Léon Castro. A atração entre Vitória e Léon surge instantaneamente.
Léon Castro tem ideias abolicionistas, escreve artigos que vão de encontro aos interesses dos ricos fazendeiros e, portanto, contra os interesses da família de Vitória. Mesmo cientes de que estão em lados opostos, Léon e Vita apaixonam-se perdidamente. Apesar dessa paixão arrebatadora, Léon parte para continuar na luta por suas ideias e planos abolicionistas, deixando Vita só e irremediavelmente apaixonada. Muitas reviravoltas acontecerão na trajetória desse romance. Encontros e desencontros, ódio e amor, enfim, um misto de ações, conflitos e sentimentos marcaram esse romance.
“A Fragrância da Flor do Café” é um livro extenso, com 533 páginas. A autora dividiu o enredo em três partes: Livro Um, que narra fatos e acontecimentos ocorridos no período de 1884 a 1886; Livro Dois, de 1886 a 1888 e Livro Três, de 1889 a 1891. O desenrolar do tumultuado romance entre Leon e Vita é narrado e ambientado durante sete anos no Vale do Paraíba e no Rio de Janeiro, período em que o plantio do café era o responsável pela prosperidade e riqueza das fazendas e dos barões do café, que se utilizavam exclusivamente da mão de obra escrava, culminando com a abolição da escravatura, provocando o declínio das fazendas sustentadas pelo plantio do café e, consequentemente, decretando a falência dos senhores "barões do café"
A jornalista alemã Ana Veloso documentou o romance através de inúmeras pesquisas realizadas no Vale do Paraíba, o que torna “A Fragrância da Flor do Café” um romance diferenciado. Tomando carona no turbulento romance de Léon e Vita, o leitor é transportado para a segunda metade do século XIX, mais precisamente para fatos que fizeram história no Brasil durante sete anos compreendidos entre os anos de 1884 a 1891. É simplesmente espetacular a maneira que a autora insere o personagem Léon na real história do Brasil, atuando na campanha abolicionista que vinha ganhando força no Rio de Janeiro, não só usando seu dom da palavra e do convencimento, como prestando ajuda na fuga de escravos e protegendo os fugitivos. Prosseguindo com a história, podemos acompanhar a resistência das classes rurais dominantes, que dependem da mão de obra escrava, para sustentação da lavoura, no caso da trama em questão, das plantações do café. É óbvio que cada vitória e conquista nesse sentido é mais um grave impedimento no romance de nossos protagonistas. Enquanto acompanhamos a trajetória sócio, econômica e política do país, acompanhamos também todo o sofrimento e luta de Vita, que por ser dona de extrema inteligência, consegue lutar bravamente contra a ausência do seu amor e contra as consequências nefastas que a abolição da escravatura provocou nas fazendas que viviam do trabalho escravo, produzindo a decadência das mesmas e dos barões do café. Vita consegue fazer fortuna no Rio de Janeiro, mas ainda precisa alcançar sua felicidade em relação ao amor.
O enquadramento histórico na trama é perfeito. Retroagimos na história do nosso país e podemos acompanhar o desenvolvimento de muitos temas como a escravidão, a libertação dos escravos e suas consequências não só para os libertos, mas também a decadência de quem sobrevivia, lucrava e ostentava com o serviço escravo, e as inovações tecnológicas. Vivenciamos também, cenários e personagens ligados às artes em geral, como música, pintura, etc. Diante de tanta coisa acontecendo, Léon e Vita percebem que têm muita coisa em comum e o leitor vai acompanhando todo o percurso dos encontros e desencontros e toda a relação de ódio e amor pelas quais nossos personagens vão trilhando sem, entretanto, conseguirem por fim ao tórrido amor.
Não posso deixar de comentar, também, que a autora me encantou e surpreendeu com a sua capacidade descritiva. Os cenários descritos por ela são irrepreensíveis, deixando o leitor literalmente passeando nas plantações, nas casas grandes, nas senzalas, nos salões de bailes, nas ruas do Rio Antigo. É muita riqueza de detalhes, sem falar na descrição dos personagens e de seus sentimentos que tornam o leitor íntimo dos mesmos.
Quanto ao final... não conto, não conto, não conto! Hahahahaha...
Para aliviar um pouco a curiosidade, só posso adiantar que o final é espetacular e emocionante!
Gente, esse livro foi cedido gentilmente pela nossa parceira Editora Jangada, selo editorial da Editora Pensamento-Cultrix Ltda para resenha. São exatamente 533 páginas sem nenhuma imagem. Puro texto, do início ao fim. E tratando-se de parceria, temos tempo determinado para leitura e resenha, certo? Esse meu comentário é uma queixa ou uma crítica? NNNãããããooo!É simplesmente para justificar o seguinte comentário: essa resenha me deixou um tanto frustrada por eu não ter conseguido comentar mais detalhadamente não só sobre o romance tão improvável entre Léon e Vitória, como também sobre todos os fatos históricos narrados com tanto conhecimento e propriedade pela autora. Esse livro merecia uma resenha mais completa, mais digna. Confesso que preciso de um tempo maior para certos tipos de leituras. Essa é uma delas. Com certeza, vou reler o livro no meu tempo, aproveitando o máximo de todo conteúdo, emoção e informação que essa talentosa autora depositou em cada linha, em cada página, em cada capítulo. Quem sabe outra resenha de “A Fragrância da Flor do Café” não acontecerá no nosso blog?
Bem, amados leitores, espero que a resenha tenha servido pelo menos para despertar o interesse de vocês pela leitura. No meu caso, foi uma das mais tocantes, intensas e proveitosas histórias que li nos últimos tempos.