Olá, leitores queridos!
Hoje, apesar de me focar em leituras e autores nacionais, decidi mostrar pra vocês minhas impressões sobre uma leitura internacional. Não vou chamar de resenha porque não vou escrever no formato tradicional de resenha, até, porque, não se trata de uma leitura que fiz recentemente (estou escrevendo agora em cima de anotações que fiz na época que li) e alguns detalhes podem me fugir da lembrança. Então, se vocês me permitirem, vez por outra, deixarei no nosso blog outros comentários sobre livros de autores internacionais. Hoje, o livro da vez é Pequena Abelha , de Chris Cleave , publicado no Brasil pela Editora Intrínseca .
Esse livro me provocou grande curiosidade devido ao grande burburinho que causou entre os leitores. Foi muito comentado e a grande maioria das avaliações foram favoráveis, embora tenha lido algumas com críticas ferrenhas. Apesar de todo meu interesse em ler, não comprei o livro e alguns meses depois consegui emprestado e minha curiosidade foi satisfeita.
Bem, explicações dadas, vamos ao que interessa.
Pequena Abelha
Título Original: Little Bee
Título no Brasil: Pequena Abelha
Páginas: 272
Autor(a): Chris Cleave
Editora: Intrínseca
Gênero: Drama
Ano de Publicação: 2010
SINOPSE
É realmente uma HISTÓRIA ESPECIAL, e não queremos estragá-la. Ainda assim, você precisa saber algo para se interessar, por isso vamos dizer apenas o seguinte: Essa é a história de duas mulheres cujas vidas se chocam num dia fatídico. Então, uma delas precisa tomar uma decisão terrível, daquelas que, esperamos, você nunca tenha de enfrentar. Dois anos mais tarde, elas se reencontram. E tudo começa… Depois de ler esse livro, você vai querer comentá-lo com seus amigos. Quando o fizer, por favor, não lhes diga o que acontece. O encanto está, sobretudo, na maneira como essa narrativa se desenrola.
Confesso que ainda não tinha lido nada do autor, o jornalista londrino, Chris Cleave. Ele afirma que a grande fonte de inspiração deste livro foi uma visita acidental que fez a um centro de detenção de refugiados na região de Oxfordshire, uma prisão que mantém pessoas que não cometeram nenhum crime. Essas pessoas não podem escrever, trabalhar, não têm direito de falar e normalmente são deportadas para lugares nos quais irão morrer. Tenho sempre em mente que quando um jornalista se propõe a escrever e a publicar algum livro sobre um determinado tema, a obra tem qualidade, devido às pesquisas e informações colhidas (e isso normalmente se confirma). Então... Mais um motivo para que o livro fosse do meu agrado.
Pessoal, fiquem tranquilos. Não vou quebrar a surpresa do livro, como pede a sinopse. Darei uma pequena pincelada sobre o enredo, mas nada que comprometa seu mistério. Vamos nessa?
“Pequena Abelha”, apesar da maioria absoluta de quem leu defini-lo como uma história que gira em torno do “mistério” ocorrido há dois anos entre as personagens principais, me deu a sensação de girar em torno da comiseração, da misericórdia, do quanto somos capazes de ser solidários com quem nada tem. Fala sobre duas mulheres: a Pequena Abelha ou Abelhinha (como gosta de ser chamada), uma adolescente nigeriana de 16 anos, que foi expulsa de seu país (ocupado de forma violenta pela disputa do petróleo) para se refugiar no Reino Unido, indo parar em um centro de detenção de refugiados, e sobre Sarah, uma jornalista britânica, com excelente emprego e dona da revista feminina Nixie, mas que está com a vida pessoal conturbada, com o marido depressivo Andrew e com Charlie, seu filho de quatro anos que incorporou o personagem Batman, vivendo como tal em tempo integral. Sarah também mantém uma relação amorosa extraconjugal com Lawrence.
“Pequena Abelha”, apesar da maioria absoluta de quem leu defini-lo como uma história que gira em torno do “mistério” ocorrido há dois anos entre as personagens principais, me deu a sensação de girar em torno da comiseração, da misericórdia, do quanto somos capazes de ser solidários com quem nada tem. Fala sobre duas mulheres: a Pequena Abelha ou Abelhinha (como gosta de ser chamada), uma adolescente nigeriana de 16 anos, que foi expulsa de seu país (ocupado de forma violenta pela disputa do petróleo) para se refugiar no Reino Unido, indo parar em um centro de detenção de refugiados, e sobre Sarah, uma jornalista britânica, com excelente emprego e dona da revista feminina Nixie, mas que está com a vida pessoal conturbada, com o marido depressivo Andrew e com Charlie, seu filho de quatro anos que incorporou o personagem Batman, vivendo como tal em tempo integral. Sarah também mantém uma relação amorosa extraconjugal com Lawrence.
Ao sair do centro de refugiados sem dinheiro, abrigo, emprego e nenhum documento, Abelhinha (só vamos conhecer o verdadeiro nome da personagem praticamente no final do livro), para não ser deportada para seu país de origem, resolve procurar abrigo na casa do casal Andrew e Sarah O’Rourke. Abelhinha os conheceu há dois anos, época em que o casal passava férias em uma praia na costa da Nigéria na tentativa de resgatar o casamento que estava em crise. Foi um encontro nada convencional e com cenas chocantes no qual as vidas de Abelhinha e de sua irmã vão ficar na dependência de uma decisão terrível que o casal terá que tomar.
O livro é narrado em primeira pessoa (o que me agrada muito, porque temos a noção exata dos sentimentos dos personagens), em capítulos alternados por Sarah e Pequena Abelha. A narrativa de Abelhinha é extremamente comovente, instigante e envolvente, revelando uma adolescente sensível, delicada, madura, consciente das mazelas do mundo, das injustiças sociais, mas ao mesmo tempo, uma menina ingênua e esperançosa. Sua narrativa é convincente, nos dando a impressão de estarmos sentadas lado a lado, ouvindo sua história. Já não posso falar o mesmo sobre a narrativa de Sarah. Sinceramente falando, apesar de ter também achado Sarah uma mulher forte e determinada, achei os capítulos narrados por ela cansativos. Outro ponto que considerei desfavorável foi o “time” que o autor deu no desenvolvimento do enredo. Chris Cleave optou por desenvolvê-lo intercalando épocas, mas não foi feliz nesse ponto. A leitura tornou-se confusa, cansativa, sem continuidade na exposição dos fatos. Na tentativa de manter em segredo o acontecimento que desencadeou a forte ligação entre Sarah e a Pequena Abelha, o autor quebrou o ritmo da expectativa do leitor, que após ler um capítulo (que, vamos combinar, a grande maioria era extremamente longo) e estar prestes a entender fatos e questões relevantes, no capítulo seguinte, o autor ou trocava a época dos acontecimentos ou enveredava em outros temas, quebrando totalmente o ritmo do enredo. Frustrante! Entretanto, “Pequena Abelha” é uma história comovente, com trechos marcantes e que induz o leitor a refletir sobre o egoísmo, a falta de solidariedade, o falso conceito de justiça que imperam no mundo atual e sobre a capacidade de se abrir mão de nossas vidas confortáveis, do nosso comodismo, em prol de outros seres humanos que não possuem absolutamente nada.
Chris Cleave tem uma escrita muito boa, e a trama, na minha impressão de mera leitora (deixo bem claro que não sou uma crítica literária) só não foi perfeita, pela maneira que o autor escolheu para desenvolver o enredo. O final do livro me satisfez, embora ache que houve um exagero do autor em classificar o tal do “grande segredo” em “espetacular”, “arrebatador”, “incrível”, pois, no final das contas, trata-se de um acontecimento pouco comum, digamos, brutal e chocante, mas nada que justifique tanto mistério e adjetivos extraordinários. Esperei por algo mais, por um final mais grandioso. A capa do livro é bem sugestiva e traz textos e indicações de autores e jornais conceituados. Tem folhas amareladas e uma boa diagramação.
Na época que li o livro, copiei alguns “quotes” que achei interessante, mas, com certeza, vocês acharão muito outros.
“Às vezes eu penso que gostaria de ser uma moeda de uma libra esterlina em vez de uma menina africana. Todo mundo ficaria satisfeito ao me ver”.
“A morte, claro, é um refúgio. É para onde você vai quando um nome novo ou uma máscara e uma capa não conseguem mais escondê-lo de si mesmo. É para onde você corre quando nenhum dos principados da sua consciência lhe concede asilo.”
“A confiança entre adultos é uma coisa difícil de conquistar, uma coisa frágil, muito difícil de reconstruir.”
[...] peço-lhe neste instante que faça o favor de concordar comigo que uma cicatriz nunca é feia. Isto é o que aqueles que produzem as cicatrizes querem que pensemos. Mas você e eu temos de fazer um acordo e desafiá-los. Temos de ver todas as cicatrizes como algo belo. Combinado? Este vai ser nosso segredo. Porque, acredite em mim, uma cicatriz não se forma num morto. Uma cicatriz significa: "Eu sobrevivi".
[...] quando digo que sou uma refugiada, você deve compreender que não existe refúgio.
"No final, eram só gritos. Primeiro eram gritos de dor, mas, finalmente, mudaram e pareciam os gritos de um bebê recém-nascido. Não havia dor neles. Eram automáticos. Não paravam. Cada grito era exatamente o mesmo, como se fosse uma máquina que os produzisse."
“Não se pode enxergar além do dia porque vocês levaram o amanhã. E porque vocês têm o amanhã diante de seus olhos, não enxergam o que está sendo feito hoje."
Gostei demais da escrita de Chris Cleave e gostaria de ler alguma outra obra escrita por ele.
Queridos leitores, essa é a minha dica de leitura internacional e fico aguardando por seus comentários.
Beijos e até a próxima.